O autêntico vampiro brasileiro

Antes que alguém venha com a piada infame do Bento Carneiro, o verdadeiro vampiro brasileiro é o Encourado. Nada de adolescentes pálidos e afetados ou aristocratas europeus com mangas bufantes. 

Autêntico folclore nordestino, é um homem sombrio de hábitos noturnos, usa roupas de couro preto (daí o nome) como um cangaceiro. Fede a sangue, ataca seres humanos e animais, morde-lhes em busca de alimento. Tem certa preferência por pessoas que não frequentam igrejas ou bebês não batizados. Para aplacar a ira do Encourado, os moradores das cidades por onde passa oferecem em sacrifício bandidos, pequenos animais ou até crianças. A oferenda deve ser colocada na porta da frente, por onde ele sempre tenta entrar. É fácil saber se um deles ronda sua cidade. As galinhas não põem ovos, os cachorros ficam o dia todo gemendo dentro de casa e os urubus passam horas a voar sobre o lugarejo. Só entra se convidado (como os colegas europeus), mas sempre dá um jeito de receber as boas graças do anfitrião. Cruzes, alho, luz do sol, água benta, estacas no coração - nada parece ferir o Encourado. Ele deve ser tolerado, nunca vencido.




Existe também o Cupendipe, embora considerá-lo vampiro possa parecer forçar a barra um pouco, pois não existem informações seguras que ele se alimenta de sangue. Lenda do Alto Tocantins, os cupendipes eram seres alados que dormiam de cabeça para baixo (como morcegos), deixavam as grutas onde moravam apenas à noite e usavam um machado em forma de meia lua para defender-se.




É hora de levantar o camisolão... ou como era o sexo no Brasil colonial


Esqueçam as relações cordiais entre os desbravadores portugueses e suas dominadas. Negras e índias podem ter eventualmente se beneficiado dos efeitos de uma união com o invasor, mas na maioria dos casos a violência era o estopim.  O colono, mandado para povoar e defender uma terra distante, longe das legítimas esposas, encorajava-se com a visão das escravas (que frequentemente usavam apenas saias) e as nativas (nuas, por hábito). Estupros (inclusive de crianças) e coação foram o motor inicial da miscigenação, em especial nas primeiras décadas, antes da chegada das europeias em número suficiente para desbrutalizar a sociedade. Com o tempo, passou a valer o velho ditado do século XVIII: “branca para casar, mulata para foder, negra para trabalhar”.




Apesar dos esforços da Igreja, a regra era o concubinato. Casamentos de papel passado, até havia em quantidade, mas os amasiamentos eram muito mais numerosos. Amancebar-se valia inclusive para os... padres. Não raros eram os sacerdotes que se uniam a mucamas que os serviam. Muitas vezes arriscavam-se com donzelas bem nascidas - nas sacristias ou nas capelas construídas nos fundos das casas grandes. Era a chamada solicitação ad turpia. Uma prática reconhecida e motivo de vergonha para o Alto Clero. Os romances entre religiosos e mulheres na colônia eram, na verdade, uma herança europeia, patricada desde muito no Velho Mundo. De tão frequente, criou-se o mito da 'burrinha do padre' - o destino reservado à concubina do sacerdote e que aqui recebeu o nome de mula-sem-cabeça. E o que isso tem a ver com o livro Danação? Mesmo correndo o risco de emplacar um spolier, eu respondo: tudo.

A Inquisição estava, é claro, atenta para os desvios nos costumes. O homossexualismo foi equiparado à heresia, e os amásios eram perseguidos e quase forçados e se casar. Os processos do Santo Ofício estavam repletos de descrições detalhadas envolvendo membrum virile (pênis), vas naturalis (vagina), vas preposterum (ânus). Até as posições eram detalhadas (mulier super virum, ou mulher por cima do homem...)

Prostíbulos e prostitutas (as "barrigãs") quase não havia. Em compensação, multiplicavam-se as casas de alcouce – tavernas ou estabelecimentos comerciais onde encontros furtivos eram encorajados, mediante pagamento para o dono do lugar. De adúlteras a mulheres empobrecidas que trocavam minutos de sexo por algumas patacas, todas se deitavam nas esteiras das casas de alcouce.

Uma sociedade desavergonhada, mas ao mesmo tempo envergonhada. A regra era ir para a cama semivestido. Recorria-se muito aos matos, principalmente os mais pobres. Sexo sem nudez. Como se dizia à época, era a hora de “levantar a camisa”, “abaixar os calções” ou “arriar as fraldas”. Pouco espaço também para as preliminares (ou “molíces”, como se dizia). 
 
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